sábado, 26 de março de 2011

O que será

Mas o que será humano? Mas o que será amar?
Mas o que será sofrer? Mas o que será chorar?
Mas o que será querer? Mas o que será conquistar?
Mas o que será correr? Mas o que será lutar?
Mas o que será dizer? Mas o que será errar?

O humano ama, pois amar é humano.
O humano sofre, pois chorar é sofrer - e sofrer é humano.
O humano quer, pois conquistar faz bem ao ego - e o ego é humano.
O humano corre, pois para lutar é necessário correr - e correr contra o tempo é [humano.
O humano diz, pois dizer é errar - e errar é humano.

Mas o que será Humano?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Até o infinito

Eu quero. Eu quero. Eu quero. Até o infinito, eu quero.

Quero saber teus pontos sensíveis e saber tocá-los.
E desejar tua boca ainda a tendo colada em meus lábios.
E conter-te dentro de mim e nunca te deixar partir.

Quero devorar-te vivo.
E olhar-te em teus olhos.
E agarrar-me à tua vida.

Quero viver comendo desta alegria cega.
E sorrir mirando esta tranquilidade sutil.
E dormir segurando em tua mão firme e quente e doce.

Quero sonhar acordada com a realidade que temos.
E dormir pra ficar ao teu lado por horas sem fim.
E que - num estado de alfa, num meio-termo-entre-tudo - me pegues em teus braços e cante pra que eu vá mais rápido àquela terra onde tudo que há somos tu e eu.

Quero encontrar um qerer que se mostre profundo.
É que todo querer escrito não é mais que superficial.
E vazio de desejo real.

Quero dizer da profunda paz que invade e corrói.
E destrói - pra construir - tudo que encontra.
E cada vez volta mais forte. Sempre que te vejo.

Quero explicar sem descrever.
E demonstrar sem dizer.
E cantar sem emitir som.

Quero saber porque tem que ser assim
E esse teu jeito de nunca voltar atrás - tão igual ao meu - te impeças de ficar aqui.
E faça ser verdade que eu vou te querer para sempre, mas que nunca te terei.

Porque é esse teu jeito de manter tua palavra que me encanta, poque és igual a mim.
E baseada nessa nossa característica é que digo que vou passar o resto dos meus dias querendo que estejas aqui, sem nem mesmo saber se ainda estás vivo. Ainda vou desejar-te no dia do meu casamento e quando estiver dando a luz aos filhos de outro e quando estiver no meu leito de morte. E nesses momentos, sem saberes bem porquê, vais lembrar de mim, porque o meu pensamento vai invadir o teu.

Então, eu quero. Eu quero. Eu quero. Até o infinito, eu quero.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Escrito em pedras

É esse piscar de olhos rápido e singelo. É esse castanho olho-de-tigre num ferro tigre e essa transparência de sensações que se confundem ao olhar de outro como se olhando através de um hialino.

E esse teu gosto especial por tudo que tem cor de quartzo fumado, como se quisesse fugir do leitoso, cujo tom lembra tua alma. Confesso que às vezes teu modo me faz sentir um sagenítico, mas não me incomodo com o fato, pois esse é dos mais belos que há. Já a cor de carneliana (ou seria sárdio? a diferença é sutil) da tua cólera me machuca.

É claro que não passas de um citrino posto no lugar de um topázio, mas não ligo, pois até o róseo dos teus lábios me encanta, principalmente quando posto em contraste com o tom morion dos teus cabelos.

É pena que sejas irredutível e duro como sílex e tenhas tanto prazer em mostrar-me sinal de jaspe ao invés de prásio, manchando nossa história tal qual uma ágata muscínea, deixando-a áspera feito uma aventurina e comum como um cristal.

Ainda assim, fascina-me teu jeito doce e sutil, feito quartzo azul, que em nada lembra um olho-de-falcão, a não ser pelas manchas de terra no meio do oceano, que são segurança no fim de tudo.

Segurança pra saber o que queres, pra correr pelos teus sonhos, pra não voltar atrás.

Seguindo teu caminho sendo levado e polido pelas águas do rio.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Carta de quem vai

Meu querido,

Estou voltando para minha casa, onde está minha família. Estou lhe enviando esta carta enquanto vou para o aeroporto e, quando você ler isso, eu provavelmente já estarei em Barcelona.

Só preciso lhe dizer que não importa o quanto você me magoou quando disse adeus ou quantas noites eu desperdicei pensando em você enquato as lágrimas desciam de meus olhos, eu amei você com todo meu coração e aqueles anos em que você foi meu melhor amigo estarão sempre na minha memória.

Eu odiei você depois daquilo, mas você você voltou e pediu desculpas, então eu lhe perdoei e agora não há mais mágoa no meu coração, então, por favor, não se preocupe.

Sei que você queria poder ter minha amizade de novo, e eu também, mas agora os tempos mudaram e isso não é mais escolha nossa. Mas querido, você pode contar comigo depois de tudo e isso nunca vai mudar de novo, pois eu sei que quando você me magoar, você voltará e dirá que sente muito.

Tenho que dizer, não quero ficar com você do jeito que eu queria antes porque não quero que você me machuque novamente, mas sempre verei você como um amigo.

Querido, espero que você entenda porque não disse para você que estou indo embora do país antes, mas eu sou medrosa e não posso olhar para você sem começar a chorar.


Com todo meu carinho
Virgínia Braga

domingo, 26 de dezembro de 2010

Pensamentos

De novo aqui. Sozinha. Numa noite de céu escuro. Lembrando de todas as vezes que fiquei a ouvir-te dizendo o nome de cada estrela. E pensando. Pensando nas diferenças do céu de agora pro céu daqueles dias. Porque o céu muda com as estações do ano. A minha vida mudou com as estações. Só o que não mudou foi esse ódio sem sentido que nutro aqui dentro a partir d'um amor sem razão que nem mesmo sei de onde tiro.

Ódio. Pode-se dizer que é tudo que sinto agora. Porque ele tomou o lugar de tudo, da alegria de ver os amigos, da paz de ter uma casa com uma família, do sono que se sente ao deitar numa cama confortável, do apetite que se sente quando se está olhando para uma mesa farta e até da saudade de pensar no passado longínquo onde sentia-se tudo isso que falei.

Mas está tudo bem. Não, não está. Mas ficará. Pois agora já é o final de dezembro e um novo ano se aproxima junto com um novo estilo de vida marcado por mudança de lugares e pessoas. E nessa época de natal ninguém pensa nas inconstâncias da vida. Só eu. Mas não haverá com quem falar sobre, pois todos estarão pensando na confraternização e nos presentes, então, talvez, com sorte, alguém possa me distrair dos pensamentos de ti.

E quero deixar claro, esforçar-me-ei para que o façam, que já não aguento mais esses pensamentos me torturando sem fim nessa dor do que deixou de ser sem jamais ter sido. Porque essa relação só existiu na minha mente. No mundo real, tu só estavas curtindo o momento e eu me consolando de outro amor que não deu certo, nessa enorme roda viva que faço questão de criar pra ficar sempre girando entre todos os homens da minha vida e não ter que me sentir sozinha como agora, que tu provocaste uma pane no mecanismo da roda e eu fui forçada a admitir que realmente não há alguém ao meu lado.

Há quem diga que eu deveria ser grata a ti por expor-me a mim mesma, assim posso assumir o que sou, como sou e como estou e parar de viver numa mentira, mas eu não posso ser grata. Como disse, tudo que sinto é ódio. Mas isso também é compreensível, todos sabem que ninguém gosta de ver a verdade de sua própria vida e é um ato cruel forçar alguém a vê-la. Então meu ódio é justificável, aceitável. Então, não julgues, não tens direito. Ninguém tem.

Enfim, tudo vai se acertar, porque vou mudar não só minha vida nesse ano que vem vindo. Vou mudar meu modo de lembrar de ti. Vou esquecer a tua face, vou esquecer a tua voz, vou esquecer o teu talento. Vou parar de reconhecer teus gestos em mãos estranhas e tuas feições em rostos diferentes. Vou mudar a mim. Eu não mais existirei.

Aí, quem sabe, de repente, já se possa dizer que não existe mais esse "eu" que tanto te venera, que tanto pensa em ti e que tanto sente a tua falta. Aí, eu poderei dizer que sou uma nova mulher, com novos gostos e que superou a droga da música clássica que tu tocas tão bem no teu violão chinfrim e esqueceu a maldita calma que tu exalas por todos os poros do teu corpo e que não mais sente necessidade tamanha de ser próxima de ti que para dar vazão a essa até utiliza o português de modo incomum e aceita a regra que diz que a segunda pessoa do singular é para tratamento pessoal, íntimo.