quarta-feira, 28 de julho de 2010

Noite adentro

A água sopra seu gelo enquanto o vento flui sem delicadeza do meu rosto pra grama e pra além. Eu não me importava quando estava protegida pelo teu corpo, mas, agora que estou sozinha no chão do nosso bosque, o frio corrói. É estranho que numa floresta à noite não haja estrelas no céu, mas a Lua está magnifica, é um daqueles céus que te deixava admirado, lembra das vezes que dizias que a única estrela da qual precisavas era eu? Eu lembro...
Lembra de quando prometeste nunca me deixar sozinha? Vives quebrando tua promessa... Mas acho que foi minha mania de ver mais do que devo, estavas brincando quando prometeste e por isso não se lembra, não é? Eu quero acreditar que sim...

Ai, que ódio que me dava e me dá quando eu pergunto e não respondes... Mas tudo bem, tudo bem, eu não tenho mais o direito de perguntar... Fizeste questão de retirar esse direito - não que algum dia o tivesses respeitado. Só me admira o modo como o tiraste sem dizer palavra. Foi quando percebi que devia admirar de verdade essa tua capacidade de não responder a perguntas, mas eu não consigo não sentir raiva quando não me respondes.

Que ódio que estou sentindo agora. Como podes aborrecer-se comigo porque pedi as minhas coisas de volta? Não é justo que fiquem contigo! Sou eu quem ama, não tu. Tu não ligas, não te importas. Não precisas de nada que te faça lembrar de mim, no entanto, eu ligo e me importo, eu preciso de algo que me lembre de ti e só tenho as memórias na minha cabeça. Não é certo que tenhas algo pra te lembrar de mim.

Perdão, perdão, não tenho direito a criticar-te mais! Perdão! Perdão se toda vez que eu penso em nós dois eu sinto que me esbofeteiam a cara com força! Perdão por pensar em dizer que é característica do meu caráter quando estou fazendo duas coisas que sempre disse não ser capaz: pedir perdão e não falar pessoalmente. É como diz a música: "quando você deixou de me amar, eu aprendi a perdoar e a pedir perdão". E o pior de tudo, é que não consigo dizer que te odeio, porque não odeio, amo. Não sei sobre ti, mas eu sou uma pessoa melhor quando estamos juntos. E esse amor está acabando comigo. Não consigo pensar direito, não consigo ser eu direito.

Mas sabes, ainda poderias salvar o resto dessa noite, se quisesses. E isso é o que me machuca. Sabes que eu estou sempre aqui para ouvir-te, mas não apareces, não me ligas, tudo que tenho de ti é esse silêncio pesado. Estás realmente quebrando meu coração. Mas apesar disso, ainda tenho que te agradecer pelos momentos que passaste comigo, pelas coisas que ouviste, pelos abraços, pelos beijos. Talvez até pelas respostas não dadas. Talvez eu acabe crescendo ao aprender a não ter respostas.

Mas não agora. Agora não quero crescer, não quero saber, não quero ouvir. Só quero esquecer. Preciso esquecer.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Palavras perdidas

Ele me disse as palavras que quis, me deixou parte morta por dentro, parte fria, parte insensível, parte quebrada. Não sei se vou conseguir desfazer os feitos dele algum dia. Não que eu queira ou vá tentar, não, ele foi um monstro, é verdade, mas fez-me bem: mostrou-me que o que julgamos como correto nem sempre é o próprio para nós.

Ele fez mais, deu-me vida, tirou-me vida, mostrou como conviver com os picos e os vales, apresentou-me à ausência e ao excesso. Ainda lembro de como custumávamos brincas com palavras e com o valor delas. Definitivamente cresci com ele. Aprendi a ser na minha hora de ser e respeitar a hora dos outros serem. Só lamento em como tudo acabou, ainda me parece que tudo simplesmente se desfez no ar, apesar de eu ainda poder sentir a consistência desse amor à nossa moda.

Foi tão poético, tão triste, tão inacreditável. Eu não queria esse fim, fim nenhum, fim em nada. Mas fui tão fraca que não disse da minha falta de fé nesse fim e agora é tarde, tarde demais. Na minha ânsia de não querer o fim, ignorei nossa história, ignorei tudo que poderia ter-nos feito consertar os estragos. Estragos que ainda não sei quais são. Estragos que parecem ter sido transferidos todos pra dentro de mim, e agora meus órgãos não funcionam direito. É difícil crer e um tanto clichê, mas realmente sinto dificuldade para respirar sem ele.

Sinto-me estúpida, como fui perder o que tínhamos? Como? Era amor, era, mas agora acabou. Era amor entre nós, era amor ele, era amor eu, eu... Eu, que agora sou lágrima; ele, que agora é silêncio; entre nós, que agora é vazio.

Eu tentei, juro que tentei, mas as palavras se perderam em mim, a meio caminho da boca, e não saíram, não saíram... E a falta das duas únicas palavras que eu queria ter dito - não vá - puseram a perder todas as palavras que alguma vez já saíram das nossas bocas, essas ficaram sem significado, aquelas ficaram no vazio. E agora tudo está perdido. Foi amor, mas agora está acabado, como tantos, perdido no vazio sonoro entre corações que gritam.

Agora

Não é necessária a esperança de que um dia seja, pois hoje já não é.

Não-sendo hoje, não poderá jamais ser, não há porque viver da esperança de que seja.

Não, não preciso da promessa, preciso do ser, preciso agora de algo que possa ser, não daquilo que promete ser, preciso daquilo que é agora.

Tenho raiva do que não é agora.

Tenho raiva do que tem a ousadia de viver sendo promessa, sendo a sombra do que deveria ser.

Nem ao menos entendo - ou quero entender - como é possível um existir de promessa, um existir de dizer que será aquilo que não se é.

Não, para mim, ou se é já, ou não se é nunca.

Pode parecer fatalismo, mas é lógico: uma coisa é o que é, não o que será.

Decisão

Essas coisas não ditas que se transformam numa raiva nítida que ninguém vê, é isso que há.

Pare de me perguntar se estou bem, sabes que sempre direi sim, mesmo que seja não.

Pare de tentar fingir que me entendes e que se importas, não és um bom ator.

E daí se esses cigarros vão matar-me um dia? A intenção é essa: morrer mais cedo. Além do quê, são eles que me trazem a paz que preciso pra aturar.

Aturar tudo, até tuas perguntas incessantes.

Não estou dizendo que me irritas, só que tuas perguntas às vezes aborrecem. Principalmente agora que deste para implicar com tudo que faço.

Não, não estou falando sem pensar nem é o vinho que me deixa assim, são realidades.

As realidades que não digo, as realidades que só saem de mim quando as ponho no papel para que não me torturem mais.

Mas que droga! Se não as digo sempre é porque elas doem, em nós dois.

Agora é exceção, não estou aguentando, não sozinha.

Não posso dizer-te essas coisas, não quero ferir-te, não quero que sintas dor, não quero.

Não faça drama, sabes que me ajudas muito só em estar aqui! Tua presença é a única coisa que quase sempre afasta meu desejo de morte.

Perdão, perdão, vou parar de gritar, prometo, é que me fazes perder a cabeça com as perguntas que fazes justo sobre o que não podes.

Olha, por que não me abraças? É sempre tão mais fácil quando teus braços me rodeiam.

Sim, sei que hoje disse coisas demais, coisas que pesam, coisas que cortam, mas não podes só me abraçar? Tudo vai passar mais rápido se ficares bem perto de mim, eu prometo.

Vê? É assim, exatamente assim que deveríamos fazer sempre. Sempre me sinto melhor assim.

Sim, sim, meu amor, vamos esquecer, esquecer tudo, viajar, sumir, sei lá. Vamos pra longe, pra onde quiseres.

Não, não digas nada. Não há algo que possa tirar essa dor que colocaste aqui dentro. Não, não digas nada. Não quero ouvir-te, não quero tuas explicações. Da tua boca só saem mentiras e não quero essas coisas que dizes. Não quero tua voz maculando meus ouvidos.

Por favor, vá embora agora, enquanto ainda é possível fingir que está tudo bem. Eu nunca quis te amar, nunca: eu sabia que me abandonarias cedo ou tarde. Só queria que fosse antes do momento em que comecei a amar-te. Agora eu amo tanto, tanto que essa tua tortura psicológica gera em mim uma dor física, como se meus ossos estivessem pondo fogo em mim por dentro, pra me corroerem antes de você.