domingo, 26 de dezembro de 2010

Pensamentos

De novo aqui. Sozinha. Numa noite de céu escuro. Lembrando de todas as vezes que fiquei a ouvir-te dizendo o nome de cada estrela. E pensando. Pensando nas diferenças do céu de agora pro céu daqueles dias. Porque o céu muda com as estações do ano. A minha vida mudou com as estações. Só o que não mudou foi esse ódio sem sentido que nutro aqui dentro a partir d'um amor sem razão que nem mesmo sei de onde tiro.

Ódio. Pode-se dizer que é tudo que sinto agora. Porque ele tomou o lugar de tudo, da alegria de ver os amigos, da paz de ter uma casa com uma família, do sono que se sente ao deitar numa cama confortável, do apetite que se sente quando se está olhando para uma mesa farta e até da saudade de pensar no passado longínquo onde sentia-se tudo isso que falei.

Mas está tudo bem. Não, não está. Mas ficará. Pois agora já é o final de dezembro e um novo ano se aproxima junto com um novo estilo de vida marcado por mudança de lugares e pessoas. E nessa época de natal ninguém pensa nas inconstâncias da vida. Só eu. Mas não haverá com quem falar sobre, pois todos estarão pensando na confraternização e nos presentes, então, talvez, com sorte, alguém possa me distrair dos pensamentos de ti.

E quero deixar claro, esforçar-me-ei para que o façam, que já não aguento mais esses pensamentos me torturando sem fim nessa dor do que deixou de ser sem jamais ter sido. Porque essa relação só existiu na minha mente. No mundo real, tu só estavas curtindo o momento e eu me consolando de outro amor que não deu certo, nessa enorme roda viva que faço questão de criar pra ficar sempre girando entre todos os homens da minha vida e não ter que me sentir sozinha como agora, que tu provocaste uma pane no mecanismo da roda e eu fui forçada a admitir que realmente não há alguém ao meu lado.

Há quem diga que eu deveria ser grata a ti por expor-me a mim mesma, assim posso assumir o que sou, como sou e como estou e parar de viver numa mentira, mas eu não posso ser grata. Como disse, tudo que sinto é ódio. Mas isso também é compreensível, todos sabem que ninguém gosta de ver a verdade de sua própria vida e é um ato cruel forçar alguém a vê-la. Então meu ódio é justificável, aceitável. Então, não julgues, não tens direito. Ninguém tem.

Enfim, tudo vai se acertar, porque vou mudar não só minha vida nesse ano que vem vindo. Vou mudar meu modo de lembrar de ti. Vou esquecer a tua face, vou esquecer a tua voz, vou esquecer o teu talento. Vou parar de reconhecer teus gestos em mãos estranhas e tuas feições em rostos diferentes. Vou mudar a mim. Eu não mais existirei.

Aí, quem sabe, de repente, já se possa dizer que não existe mais esse "eu" que tanto te venera, que tanto pensa em ti e que tanto sente a tua falta. Aí, eu poderei dizer que sou uma nova mulher, com novos gostos e que superou a droga da música clássica que tu tocas tão bem no teu violão chinfrim e esqueceu a maldita calma que tu exalas por todos os poros do teu corpo e que não mais sente necessidade tamanha de ser próxima de ti que para dar vazão a essa até utiliza o português de modo incomum e aceita a regra que diz que a segunda pessoa do singular é para tratamento pessoal, íntimo.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Antes de ir

Eu queria que soubesses que eu adoro o jeito como sorris e o modo como sempre sabes o que queres, apesar de não sorrires para mim e de insistires em dizer que não me queres.

Odeio essa vontade idiota que me dá de correr pros teus braços toda vez que te vejo e a nítida sensação que tenho de que, mesmo dizendo que sentes falta de falar comigo, não queres ser meu amigo e não de que faz a menor diferença no teu dia a minha presença nele ou não.

Odeio saber que nunca mais ouvirei a música que fizeste para mim e que a partir deste ano, cujo fim se aproxima numa velocidade assustadora, não verei mais o teu rosto novamente. E o arrependimento de não ter tirado uma foto contigo antes que pudesses ter terminado comigo é tanto que nem sei dizer.

Mas nunca, nunca, vou deixar de querer-te ao meu lado, nem de sentir tua falta ou de sonhar contigo todas as noites como tenho feito desde que fostes embora.

Sinto tua falta mais do que qualquer outra coisa ou pessoa em quem possas pensar. Inclusive minha mãe.



Essa sou eu tentando superar a nossa história, por favor não julgue.

Uma alegria para sempre

"As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se –
depois de tudo – tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."

Mario Quintana

domingo, 3 de outubro de 2010

Saber o que é viver

Hoje um amigo me disse que, dentre todas as pessoas que ele conhece, eu sou a que menos precisa de terapia porque eu sei o que é viver. Porque já passei por muitas experiências. Porque não sou como ele, frio e calculista ao ponto de sentir uma dor profunda e não derramar lágrima.

Algo me impediu na hora, mas eu queria ter dito que poder chorar é uma merda. Que ter as lembranças que tenho é uma merda. Que não poder dormir sem uma dose cavalar de remédio é uma merda. Que se destruir quando algo chega ao fim é uma merda. Que saber viver é a pior coisa que existe porque a vida é uma merda. Queria ter dito o quanto eu daria pra ser como ele.

Ele disse que meu emocional é lindo. Queria ter dito o quão lindas são as fotos das pessoas mortas, as paisagens em preto-e-branco que lembram morte, os textos que algumas pessoas escrevem pra falar dum amor antigo ou de alguém que se foi. Ser lindo não torna nada melhor ou mais feliz. Mas ele acha certo ser assim.

Segundo ele, a tristeza vai passar quando eu encontrar alguém que seja o meu alguém, quando eu me entregar a esse alguém, mas que tenho que dar tempo pra que as coisas possam acontecer. Queria ter podido explicar que quando se é como eu sou, fazer isso é uma tortura maior do que ver meu mundo destrído, em ruínas, cada vez que algo dá errado.

Ainda que eu não concorde com o que ele me falou, jamais deixarei ser grata pela preocupação que ele demonstrou ter comigo. Que agora ele é o meu melhor amigo. Que passei a admirá-lo tanto que vou tentar mudar o meu olhar só pra concordar com ele e sermos iguais em algum ponto. Agora, vou tentar ver tudo que antes eu via em mim como defeito dum jeito melhor, pra não ter que fazê-lo me ver triste de novo porque a cada coisa que acontecer, eu vou pensar nele e dizer à mim mesma que é melhor assim, vou pôr um sorriso verdadeiro no rosto a qualquer custo e agradecer-lhe por tudo.

Meu amigo, nunca mais te livrarás de mim. E mais que nunca seguirei teus conselhos. Tens meu carinho eterno. E, se me permites, pasar-te-ei a chamar irmão.

Psicológico

Lágrimas cristalizadas no meu rosto eternizam em mim uma expressão morta. E aquele que quiser, um dia, desfazer essa feição, deve saber que ela nunca sairá completamente e que antes de tentar deve ter certeza da vontade, pois no momento em que essa máscara de tristeza se desfizer num sorriso, não haverá volta.

Minha psquiatra diz que essa minha resolução é psicológica, que estou doente e que aquela pilha de remédios que ela me receita vai acabar com isso, mas eu não acredito porque cada vez que eu tomo uma pílula daquela eu me sinto um pouco mais morta por dentro. E ela não é capaz de me dar motivos pr'essa doença.

Mas quem me vê sentada no chão, na porta da sala de aula, olhando o corredor com esperança de te ver passar concorda com ela.
É psicológico, me dizem.
Solidão não é uma escolha, eu respondo.
Sei que a psicologia não diz ser uma decisão o entrar em depressão, mas diz que é o sair dela. Se dependesse só da minha vontade, eu não estaria assim.

Irritam-me aqueles que me julgam como alguém que só quer chamar atenção. O caso é exatamente o oposto: quero não ser percebida como coisa que precisa de conserto. Quero que alguém, pelo menos uma só pessoa, perceba que há uma pessoa por baixo da lágrima de cristal que sente a tua falta.

Mas aí vem o psicólogo, me dizendo que esse querer é psicológico, que eu mesma projeto a imagem de objeto em mim. Queria ter palavras para dizer a ele que só um louco faria isso, que isso corrói aos poucos numa dor profunda. Vem ele e diz que tudo é psicológico.
Saudade é psicológico.
Querer-te é psicológico.
Solidão é psicológico.
Ter a carne desfeita é psicológico.

Mas tudo isso é amor.
E não há quem me convença que amor é psicológico.

Lágrimas sofridas

Ó, minha menina bonitinha, eu te dei
Todo o meu carinho, meu aninho, eu te dei
Verdes campos, flores, amarelos, furta-cor
Dei a primavera, os sete mares, meu amor

Lágrimas sofridas e feridas do meu peito
Dei minha palavra, minha honra, meu respeito
Todas as verdades e olhares que podia
É com qual coragem que você me repudia?

Ó, minha menina bonitinha, eu te dei
Vida de princesa, realeza, eu te dei
No meu ombro afago preocupado de um amigo
Jóia, casa, carro, seu sapato, seu vestido

Pra você princesa, dediquei a minha vida
Levo desse amor, o seu rancor e uma ferida
Apesar de tudo, minha linda, não te odeio
Mas sem tua boca inclino à morte sem receio

Dei pra ti as estrelas, os peixinhos e as aves
Todas as montanhas, nas escalas, dei as claves
Todas as cancões que eu fiz, eu fiz pra ti princesa
Tudo de mais belo que encontrei na natureza

(Los Hermanos)

domingo, 26 de setembro de 2010

As-tu déjà aimé moi?

Quando eu tinha quatro anos minha mãe morreu. Eu não sabia o que era morte. Num momento único minha irmã me disse que morrer é tornar-se estrela e não voltar à Terra nunca mais, viver para sempre no céu, olhando as pessoas e cuidando delas.

Depois desse dia eu comecei a olhar para a Lua todos os dias antes de ir dormir. Eu não sabia qual estrela era minha mãe, então pedia à Lua que lhe desejasse boa noite por mim e dissesse que eu a amo. Não era como ter minha mãe de volta, mas dava-me um pouco de conforto, como se ela estivesse mais perto.

Quatorze anos depois, é um hábito que eu mantenho e que sempre me alivia um pouco das tensões e preocupações. Até hoje. Mas agora, depois de passar esse tempo com você e de ouvir todas as suas conversas sobre corpos celestes, eu olhei pra Lua, pretendendo pedir-lhe que levasse meu recado, mas, pela primeira vez, ela falou comigo antes que eu pudesse pedir, e ela não falou da minha mãe, como eu sempre desejei, ela só fez lembrar-me de você.

Agora eu me sinto longe até da minha mãe por sua causa e fico aqui me perguntando por que eu me torturo assim. Não vale a pena parar de mandar meus recados para minha mãe só porque a Lua insiste em falar sobre você. E tudo que eu queria saber é se alguma vez você me amou, ou pelo menos gostou um pouco, mesmo que por um segundo. Não quero perder minha mãe de novo - agora que sei o que é morte - por causa de momentos em que fui um brinquedo.

Eu lhe emploro, devolva-me o direito de falar com a minha mãe.

sábado, 25 de setembro de 2010

Sem nome

Eu juro que queria não ter essa atração tão completa por você. Eu não quero. Mas é que tudo que há em mim quer desesperadamente querer você. Não é culpa sua, eu sei. Ou talvez até seja, por ter-se mostrado tão perfeito pra mim, mas eu lhe quero tanto tanto que não sou capaz de acusar-lhe de nada. A culpa é minha, que faço meus olhos enfeitarem tudo que veêm. A culpa é minha que sou capaz de ver beleza em cada pequena coisa que você diz, até nas mais ásperas, que doem nos ouvidos - e eu juro que sou capaz, se até nesse seu jeito distraído eu vejo graça, esse seu jeito que não lhe deixa ver que eu lhe quero.

Na verdade, acho que eu não deveria enfatizar tanto esse querer profundo que venho nutrindo incessantemente por você, já que não sei nem que nome dou a ele, apesar de ter uma certeza absurda de que é real. Digo que é absurda essa certeza pois ela não deveria nem mesmo existir, já que nunca sequer lhe toquei um toque que alguém que fosse mais que uma simples amiga tocaria - o que eu acho que é até bom, uma vez que tudo que eu toco vira lembrança, e ai de mim se; além da memória do seu sorriso, do seu cheiro, do seu cabelo, de você na chuva; tivesse que conviver pacificamente também com a lembrança da sua pele nos meus dedos.

Mas, por absurda que seja, há a menos essa certeza que me afirma categoricamente que eu lhe quero. E mesmo que esse querer não tenha nome, ele existe e isso me basta.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Menos um

Não sei porquê, mas agora toda noite eu conto menos um. Menos um dia. Pra quê? Não sei. Só sei que cada dia que se vai é um alívio quase imperceptível e cada dia que chega é uma nova tortura.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dois dias

Há dois dias atrás eu previ a queda, a ruína, a lágrima. Hoje, tudo aconteceu de repente, em cinco minutos, tudo acabou. Agora o que me resta são lembranças esparsas,, vagas e pouco nítidas. As memórias fortes, essas são poucas, tanto que podem ser destribuídas em apenas três grupos de dois.

Dois dias: o primeiro beijo, que, pra mim, nada quis dizer (04/6/2010) e a música que fizeste pra mim, que, pra ti, nada quis dizer, mas, pra mim, significou o mundo (27/8/2010).

Dois dias: o texto que te dei, pra mostrar que a música significou tudo (01/9/2010) e o terceiro dia após isso, que foi o dia no qual completamos 3 meses juntos, separados, o qual, tenho certeza nem ao menos lembraste (04/9/2010).

Dois dias: o dia em que voltaste da tua viagem e eu, feliz, queria ver-te, mas tu te mantiveste ocupado (13/9/2010) e hoje, que, sem escrúpulo algum, deixas-me só, somente porque gosto de ti (15/9/2010).

Além disso, só teus sorrisos - falsos - e tuas carícias - dirigidas em pensamento a sabe-se-lá-quem - e teus abraços - folgados - e tuas brincadeiras - malíciosas - e essa dor que me corrói a carne. E é assim, nessa sensação de mágoa eterna, que me despeço do teu último dia na minha vida: o dia dos nossos 101 dias que nunca se tornarão 102.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Nada além de uma mágoa

Dói tanto que não posso explicar. Como pode doer tanto algo que já passou? Como pode doer tanto algo que não houve? Como pode doer tanto algo que houve? Como? Por que isso causa lágrimas? Nunca pensei que diria isso, mas agora eu não te abraçaria se estivesses aqui. Agora eu não te beijaria. Não sei se me acalmaria com a tua presença ou se meu desespero iria aumentar. Queria que estivesses aqui, mas pra me dar as respostas das quais preciso.

Até este momento eu não havia pensando nesses quilômetros que nos separam como algo que me impedissem de tocar-te, mas agora não consigo mais recompor a textura da tua pele só com o pensamento como há algumas horas atrás. Diga-me, por que existe ciúme numa coisa tão velha e tão simples e tão incoerente e tão impossível?

Não, é só uma mágoa. Só uma feridantiga. Só mais uma paranóia minha. Tem que ser. Queria você aqui p'ra dizer-me que é bobagem. Por alguma razão, que não consigo fazer-me acreditar que não é real. Por alguma razão, acho que conseguiria acreditar em ti. Por que acreditar mais em ti que em mim mesma? De qualquer forma, por que isso mudaria alguma coisa? É bobo.

Ainda não consigo esquecer o tom de felicidade que havia na tua voz quando era p'ra ela que você falava. Tanto tempo e isso veio perseguir-me hoje. Logo hoje que deveria ser um dia feliz com meus amigos. Droga de amigos fofoqueiros. Mas eu os amo. Ainda não consigo lembrar de algum dia no qual tua voz fosse tão feliz quando a conversa era entre nós.

Porra, por que tua voz era tão feliz p'raquela vadia? Ela te traiu, fez-te de idiota, brincou contigo, mas a merda da tua voz é mais feliz p'ra ela do que p'ra mim, que sou incapaz de fazer qualquer coisa que, mesmo em sonho, magoe você. E essa merda da minha insegurança. Que saco gostar tanto de estar contigo. Que saco gostar tanto de ti. Que saco ter tanto medo de perder-te. Que saco não te ter aqui p'ra dizer-me que não te perderei. Que saco que tu nunca dirás que não vou perder-te porque tu não me gostas.

Meu amigo está certo, que relação é essa de não-gostar?

Minha amiga está certa, que relação é essa de gostar-não-recíproco?

Por um segundo, eu te odeio. Mas não posso odiar-te por muito mais tempo, nem sabes o que está acontecendo comigo agora, estás em outro país. É um erro. É um erro, eu sei, é um erro. Tudo isso é um erro. O ciúme, a raiva. Talvez até a relação. Mas eu sempre erro nessas coisas, não sei escolher.

Uma vontade louca de gritar todos os palavrões do mundo. De fumar todos os cigarros que eu conseguir. De ouvir músicas que só pioram tudo. De ser o eu que eu não gosto. De me afundar mais na depressão que já me acompanha há anos. De dizer que preciso de ti. De conseguir não precisar. Pelo menos ainda posso escrever. E p'ra isso não há limite imposto: as palavras me vêm à mente infinitas.

Que vontade de perguntar e que medo de ouvir a resposta. O que há afinal? O que é real e o que não é? Nós somos? Acho que sim, ou não doeria tanto, infelizmente, acho que não p'ra ti, mas apenas pra mim. Para ti, o que somos, afinal?

Por favor, se for uma resposta ruim, não tenha medo de dizê-la: vai ser só mais uma mágoa.

sábado, 4 de setembro de 2010

Para uma união completa

Casa comigo. Casa comigo que eu te quero para sempre sendo meu travesseiro-protetor-sonífero ou seja lá o que há em ti que cura minha insônia. Casa comigo que eu preciso da tua calma naquelas horas recorrentes em que estou com aquela inquietude interna. Casa comigo que eu necessito da tua música pra recompor a harmonia da minha alma e do gosto do metal nos teus dedos pra me livrar dos cigarros.

Casa comigo que eu quero nós dois nos descobrindo em espírito a cada sorriso, a cada mania, a cada amanhecer e a cada carícia. Casa comigo que tu és o único que meu corpo aceita. Casa comigo que eu quero crescer com a tua sabedoria. Casa comigo que eu gosto de ver Vênus e lembrar de ti. Casa comigo que eu preciso sentir-te cada vez mais dentro de mim.

Casa comigo que o teu espaço dentro de mim está crescendo mais e mais e está derrubando todas as barreiras pra conseguir crescer e está ocupando lugares onde antes só havia espaço para morte e lágrima. Casa comigo que tu tiras tudo que tem dentro de mi que me faz mal. Casa comigo que contigo eu sou um versão mais verdadeira de mim. Casa comigo que tu és tudo que vem à minha cabeça. Casa comigo que tu és tudo. Casa comigo que eu te amo. Casa comigo.

Não, não digas nada. Não há algo que possa tirar essa dor que colocaste aqui dentro. Não, não digas nada. Não quero ouvir-te, não quero tuas explicações. Da tua boca só saem mentiras e não quero essas coisas que dizes. Não quero tua voz maculando meus ouvidos.

O que fizeste não tem justificativa, não perdão para uma atitude tão inescrupulosa e infantil. Não quero mais ouvir tua voz, por favor, vá embora agora. Deixa-me sozinha com minhas mágoas e pezares. Vá e não olhes mais para trás, não me tentes com teus olhares novamente. Vá, não me conteste.

É o que querias, por que te arrependes agora? Pretendias deixar-me desde o início, eu sei, então pare com teus fingimentos tolos, não quero mais assistir teu remorso falso pelas lágrimas que provocaste. Vá, eu imploro.

Vá! Não tens direito a assistir ao meu pranto, pra que? Para vangloriar-te com teus amigos depois? Não às minhas custas, vá. Cala-te. Não farei parte do teu jogo, não representarei o papel que queres que que represente, não te pedirei que fiques, queres ir, então vá e dê-se por satisfeito com os momentos em que fiz o que querias até hoje, não espere reprises. Não vou expor-me ao ridículo seguindo teus desejos.

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Ah! Querido, que mal me fizeste, que falta me fazes. Não me atrevo a crer até hoje que era tudo mentira, parecia tão real, tão verdadeiro. Como fui tola. Crédula. Agora estou sozinha, olhando teu retrato.

Pedido de casamento

E se eu te der tudo qu tenho, que darás a mim? Que ficará pra mim? Qual será a minha parte? E qual vai ser a parte minha que ficará pra mim? Pois, se eu te dou tudo, dou-te inclusive eu. Diga-me, meu amor, o que caberá a mim? Quais serão os meus direitos e deveres?

Qual parte da responsabilidade será a minha, todas ou nenhuma? Pois, se eu sou quem doa tudo, então, tudo que acontecer será minha responsabilidade, no entanto, se não tenho nada, como posso ter que arcar com as consequências?

Diga-me, querido, se eu te der tudo que tenho, que será meu? Que será eu?

Não, fiquemos contentes com o pouco que nos damos, que esse pouco não te impõe nada, que esse pouco não te faz perguntas, que esse pouco não tira de mim a posse de mim mesma, que esse pouco não nos mostra os buracos nos lençóis que nos cobrem, que esse pouco não tira pedaços euquivalentes de cada um de nós para trocá-los, que esse pouco não nos pede nada. Não, tu é que pedes a ele mais dele, eu que que peço mais de ti. Tu que não te satisfazes com uma só dança, eu que não me satisfaço com um só jantar.

O pouco nos une na distância, pois, na distância, ele nos faz pensar nele e sentir falta. O pouco não nos revela os defeitos mútuos que temos e não gostamos. não, meu amor, deixemos como está, que quando estou sozinha é quando mais te quero.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Agonia da ausência

Não aguento mais fingir que não me fazes falta. Não suporto não te contar meus segredos. Essa distância entre nós me causa dor na carne e minha respiração está uma bagunça.

O ar se comprime ao meu redor e tenho que me encolher porque estou sozinha. Mau café está frio e meus cigarros acabando. Queria conhaque, mas não tenho dinheiro.

Intrínseca em mim , uma inquietude que me abala forte e faz minhas mãos tremerem. O vento está forte e farto nesse bar de esquina e deixei meu casaco em casa, achei que faria sol mas as nuvens escondidas apareceram.

Não gosto de ficar zoinha. Quero ajuda. Alguém pra levantar-me dessa cadeira dura e levar-me pra longe. Longe de mim e longe da tua ausência.

domingo, 8 de agosto de 2010

Incondizente

Eu sei o que disse, e até ontem à noite eu poderia jurar ser a mais pura verdade. Hoje já não tenho tanta certeza, estou confusa. E odeio isso. Estava perfeito quando eu tinha certeza dos meus sentimentos e eles não eram diferentes dos teus, agora eu corro risco. Eu sei que agora estás aqui, mas não sinto como se estivesses, sinto como se de repente fosse chegar um vento forte e levar-te para o aqui de outra pessoa sem que haja resistência tua, porque não estás ligado a mim, nós não nos amamos, simplesmente gostamos da companhia um do outro.

Quer dizer, agora já não sei se isso é recíproco. É que minhas reações não condizem com o que suponho sentir. São reações de algo mais forte, mais profundo, mais inquieto. São reações de paixão, de amor, sei lá. Pelo menos eu acho que são. Ninguém sai por aí sentindo ciúme de alguém se não amar esse alguém, não é? Mas eu senti ciúme ontem, eu senti. Ver-te conversando com aquela garota... Eu pude sentir a alegria na tua voz. Alegria que eu não sinto quando somos só nós.

E já disseste que simplesmente gostas de mim e eu estou ficando maluca com isso. É claro, eu pensava que eu também simplesmente gostava de ti, mas agora, agora não sei o que penso nem o que sinto nem o que penso que sinto. Agora, assim de repente, veio um medo de perder-te. E antes, quando me imaginava sem ti, não me vinha esse calafrio na espinha, não sentia essa agonia. Não, algo mudou. Deve ser a minha eterna mania de viver as coisas muito mais dentro de mim do que onde elas realmente acontecem que mudou o que quer que seja aqui dentro.

E o pior é esse medo de dizer-te que acho que algo mudou. Tenho medo, sim. É tão pouco o tempo que estamos juntos e tão pouco o tempo em que dissemos um pro outro que não nos amamos, tenho certeza de que nada mudou em ti. E tinhas medo de que eu sentisse mais. E agora já não posso acalmar teu medo. Nem essa droga de vontade de agradar-te. Uma merda, tudo. Uma grande merda. Uma merda que eu me sinta tão bem nos teus braços. Uma merda saber que pra você tanto faz. Uma merda achar que agora preciso muito mais de ti do que tu precisas de mim.

Sem sono

Para dormir é necessário estar tranquilo.
Para estar tranquilo é necessário ser feliz.
Para ser feliz é necessário sorrir.

Às vezes acho que posso me obrigar a dormir, mas nunca sorrio quando é necessário. Então escrevo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Noite adentro

A água sopra seu gelo enquanto o vento flui sem delicadeza do meu rosto pra grama e pra além. Eu não me importava quando estava protegida pelo teu corpo, mas, agora que estou sozinha no chão do nosso bosque, o frio corrói. É estranho que numa floresta à noite não haja estrelas no céu, mas a Lua está magnifica, é um daqueles céus que te deixava admirado, lembra das vezes que dizias que a única estrela da qual precisavas era eu? Eu lembro...
Lembra de quando prometeste nunca me deixar sozinha? Vives quebrando tua promessa... Mas acho que foi minha mania de ver mais do que devo, estavas brincando quando prometeste e por isso não se lembra, não é? Eu quero acreditar que sim...

Ai, que ódio que me dava e me dá quando eu pergunto e não respondes... Mas tudo bem, tudo bem, eu não tenho mais o direito de perguntar... Fizeste questão de retirar esse direito - não que algum dia o tivesses respeitado. Só me admira o modo como o tiraste sem dizer palavra. Foi quando percebi que devia admirar de verdade essa tua capacidade de não responder a perguntas, mas eu não consigo não sentir raiva quando não me respondes.

Que ódio que estou sentindo agora. Como podes aborrecer-se comigo porque pedi as minhas coisas de volta? Não é justo que fiquem contigo! Sou eu quem ama, não tu. Tu não ligas, não te importas. Não precisas de nada que te faça lembrar de mim, no entanto, eu ligo e me importo, eu preciso de algo que me lembre de ti e só tenho as memórias na minha cabeça. Não é certo que tenhas algo pra te lembrar de mim.

Perdão, perdão, não tenho direito a criticar-te mais! Perdão! Perdão se toda vez que eu penso em nós dois eu sinto que me esbofeteiam a cara com força! Perdão por pensar em dizer que é característica do meu caráter quando estou fazendo duas coisas que sempre disse não ser capaz: pedir perdão e não falar pessoalmente. É como diz a música: "quando você deixou de me amar, eu aprendi a perdoar e a pedir perdão". E o pior de tudo, é que não consigo dizer que te odeio, porque não odeio, amo. Não sei sobre ti, mas eu sou uma pessoa melhor quando estamos juntos. E esse amor está acabando comigo. Não consigo pensar direito, não consigo ser eu direito.

Mas sabes, ainda poderias salvar o resto dessa noite, se quisesses. E isso é o que me machuca. Sabes que eu estou sempre aqui para ouvir-te, mas não apareces, não me ligas, tudo que tenho de ti é esse silêncio pesado. Estás realmente quebrando meu coração. Mas apesar disso, ainda tenho que te agradecer pelos momentos que passaste comigo, pelas coisas que ouviste, pelos abraços, pelos beijos. Talvez até pelas respostas não dadas. Talvez eu acabe crescendo ao aprender a não ter respostas.

Mas não agora. Agora não quero crescer, não quero saber, não quero ouvir. Só quero esquecer. Preciso esquecer.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Palavras perdidas

Ele me disse as palavras que quis, me deixou parte morta por dentro, parte fria, parte insensível, parte quebrada. Não sei se vou conseguir desfazer os feitos dele algum dia. Não que eu queira ou vá tentar, não, ele foi um monstro, é verdade, mas fez-me bem: mostrou-me que o que julgamos como correto nem sempre é o próprio para nós.

Ele fez mais, deu-me vida, tirou-me vida, mostrou como conviver com os picos e os vales, apresentou-me à ausência e ao excesso. Ainda lembro de como custumávamos brincas com palavras e com o valor delas. Definitivamente cresci com ele. Aprendi a ser na minha hora de ser e respeitar a hora dos outros serem. Só lamento em como tudo acabou, ainda me parece que tudo simplesmente se desfez no ar, apesar de eu ainda poder sentir a consistência desse amor à nossa moda.

Foi tão poético, tão triste, tão inacreditável. Eu não queria esse fim, fim nenhum, fim em nada. Mas fui tão fraca que não disse da minha falta de fé nesse fim e agora é tarde, tarde demais. Na minha ânsia de não querer o fim, ignorei nossa história, ignorei tudo que poderia ter-nos feito consertar os estragos. Estragos que ainda não sei quais são. Estragos que parecem ter sido transferidos todos pra dentro de mim, e agora meus órgãos não funcionam direito. É difícil crer e um tanto clichê, mas realmente sinto dificuldade para respirar sem ele.

Sinto-me estúpida, como fui perder o que tínhamos? Como? Era amor, era, mas agora acabou. Era amor entre nós, era amor ele, era amor eu, eu... Eu, que agora sou lágrima; ele, que agora é silêncio; entre nós, que agora é vazio.

Eu tentei, juro que tentei, mas as palavras se perderam em mim, a meio caminho da boca, e não saíram, não saíram... E a falta das duas únicas palavras que eu queria ter dito - não vá - puseram a perder todas as palavras que alguma vez já saíram das nossas bocas, essas ficaram sem significado, aquelas ficaram no vazio. E agora tudo está perdido. Foi amor, mas agora está acabado, como tantos, perdido no vazio sonoro entre corações que gritam.

Agora

Não é necessária a esperança de que um dia seja, pois hoje já não é.

Não-sendo hoje, não poderá jamais ser, não há porque viver da esperança de que seja.

Não, não preciso da promessa, preciso do ser, preciso agora de algo que possa ser, não daquilo que promete ser, preciso daquilo que é agora.

Tenho raiva do que não é agora.

Tenho raiva do que tem a ousadia de viver sendo promessa, sendo a sombra do que deveria ser.

Nem ao menos entendo - ou quero entender - como é possível um existir de promessa, um existir de dizer que será aquilo que não se é.

Não, para mim, ou se é já, ou não se é nunca.

Pode parecer fatalismo, mas é lógico: uma coisa é o que é, não o que será.

Decisão

Essas coisas não ditas que se transformam numa raiva nítida que ninguém vê, é isso que há.

Pare de me perguntar se estou bem, sabes que sempre direi sim, mesmo que seja não.

Pare de tentar fingir que me entendes e que se importas, não és um bom ator.

E daí se esses cigarros vão matar-me um dia? A intenção é essa: morrer mais cedo. Além do quê, são eles que me trazem a paz que preciso pra aturar.

Aturar tudo, até tuas perguntas incessantes.

Não estou dizendo que me irritas, só que tuas perguntas às vezes aborrecem. Principalmente agora que deste para implicar com tudo que faço.

Não, não estou falando sem pensar nem é o vinho que me deixa assim, são realidades.

As realidades que não digo, as realidades que só saem de mim quando as ponho no papel para que não me torturem mais.

Mas que droga! Se não as digo sempre é porque elas doem, em nós dois.

Agora é exceção, não estou aguentando, não sozinha.

Não posso dizer-te essas coisas, não quero ferir-te, não quero que sintas dor, não quero.

Não faça drama, sabes que me ajudas muito só em estar aqui! Tua presença é a única coisa que quase sempre afasta meu desejo de morte.

Perdão, perdão, vou parar de gritar, prometo, é que me fazes perder a cabeça com as perguntas que fazes justo sobre o que não podes.

Olha, por que não me abraças? É sempre tão mais fácil quando teus braços me rodeiam.

Sim, sei que hoje disse coisas demais, coisas que pesam, coisas que cortam, mas não podes só me abraçar? Tudo vai passar mais rápido se ficares bem perto de mim, eu prometo.

Vê? É assim, exatamente assim que deveríamos fazer sempre. Sempre me sinto melhor assim.

Sim, sim, meu amor, vamos esquecer, esquecer tudo, viajar, sumir, sei lá. Vamos pra longe, pra onde quiseres.

Não, não digas nada. Não há algo que possa tirar essa dor que colocaste aqui dentro. Não, não digas nada. Não quero ouvir-te, não quero tuas explicações. Da tua boca só saem mentiras e não quero essas coisas que dizes. Não quero tua voz maculando meus ouvidos.

Por favor, vá embora agora, enquanto ainda é possível fingir que está tudo bem. Eu nunca quis te amar, nunca: eu sabia que me abandonarias cedo ou tarde. Só queria que fosse antes do momento em que comecei a amar-te. Agora eu amo tanto, tanto que essa tua tortura psicológica gera em mim uma dor física, como se meus ossos estivessem pondo fogo em mim por dentro, pra me corroerem antes de você.